Na última semana, circulou pela Internet
um post concebido pela página “Canal
da Direita”, em Facebook, que
despertou o interesse de muitos amigos meus na rede social. O motivo: no lado
esquerdo da montagem estava uma foto do menor infrator torturado por civis no
Rio de Janeiro, e, no lado direito, uma foto do estudante William Teixeira (que vos escreve nesta madrugada),
tomada por um profissional do Jornal Estado de Minas, em 2013; acompanhadas do
texto: “Para algumas pessoas, toda a conduta errada do cara da esquerda é
justificada por ele ser pobre e negro. O da direita desmente tudo isso”, e
das respectivas descrições : “este é o menor pobre e negro que praticava
assaltos no Rio de Janeiro” e “Este é William Teixeira, garoto pobre e negro
que passou em primeiro lugar no ENEM 2013”[1]. Não publico aqui a imagem para evitar
inconvenientes relacionados ao assunto.
Solicitaram-me opiniões e “esclarecimentos”
sobre o fato, o que faço a continuação, em cinco partes, para ser claro, ainda
que não tão conciso.
1. Digo que o post foi concebido
pelo “Canal da Direita”. Leva sua
assinatura na parte baixa.
Esclareço – e mais claro não poderia
estar – que nada tenho que ver com sua produção, e isso significa que não fui, em
nenhuma ocasião, consultado por quem quer que fosse sobre o uso da minha imagem
em tal conteúdo.
2. Quanto ao “primeiro lugar no
ENEM de 2013”, esclareço que a informação está incompleta, já que o comunicado que
recebi do Ministério da Educação em 2013 nada dispunha sobre uma classificação em nível nacional, senão que se referia à “maior nota na região sudeste” no ENEM 2012.
3. O post retrata parcialmente o fato ocorrido no Rio sem, entretanto, analisar
a ação igualmente criminosa dos torturadores.
Assim, muitos amigos fizeram uma interpretação
– de caráter pessoal e espontâneo! – de que a imagem pretendia “justificar” a violência
deferida contra o menor infrator.
Esclareço: tenho muito distinguido que
uma coisa é a leitura de um texto, e outra sua interpretação. Nesse campo,
nossa vã filosofia, com sua liberdade criadora, pode aportar muitas coisas
sobre “o que há entre o céu e a terra”; sem embargo, o que há, de fato, só nos
poderia esclarecer quem o soubesse - nesse caso, o autor do texto. De todos os
modos, reitero que estou em contra de toda e qualquer ação que fira a integridade
e a dignidade do ser, inclusive, se me permitem dizer, em contra das práticas de
aborto de nascituros e eutanásia de anciãos, amplamente defendidas nos últimos
tempos.
4. Sugeriram-me a abertura de processo judicial contra a página e administrador(es) envolvidos.
Esclareço, em um primeiro momento,
que não possuo direitos autorais sobre a foto, pertencentes (creio eu) ao grupo
“Diários Associados”, responsável pelo jornal “Estado de Minas”, que deve,
portanto, se assim lhe convier, tomar qualquer decisão sobre este aspecto
legal. E num segundo momento, que não pretendo mover qualquer processo contra
os autores relacionado ao uso da minha imagem, por entender que tal fato não me
causou graves prejuízos físicos ou morais. Confesso, porém, que não me
agrada ver a minha imagem e história expostas num texto de visão tão fria e monocromática
sobre o assunto...
5. Sobre o que está escrito, não vejo
incongruências com a realidade.
Sempre defendi que a origem socioeconômica
de um indivíduo não justifica, de modo algum, a prática de atos ilícitos: a Moral
é de campo pessoal, mas a Ética nos atinge a todos, de modo que somos os únicos
responsáveis por nossas ações. No entanto, creio que é oportuno recordar a
validade desse pensamento para os dois lados: NENHUMA violência é justificável!
Uma vez mais, agradeço imensamente
a preocupação dos amigos ao me verem envolvido nessa situação, e EXPLICITO NÃO
COMPACTUAR COM A AÇÃO DE “JUSTICEIROS FORA DA LEI”, por acreditar, como o Beato
João Paulo II, que “as
colunas da verdadeira paz são a justiça e aquela forma particular de amor que é
o perdão”[2]. Sou um obstinado e ativo defensor da construção de uma
cultura do diálogo e da paz.
E para terminar, por dizer algo
mais, comento a casualidade que é a vida: acabo de chegar de um Congresso
celebrado em Ávila, Espanha, cujo tema era, precisamente, a relação entre o
homem e as novas tecnologias de comunicação, suas implicações e desdobramentos possíveis:
“Del Homo sapiens al Homo virtualis”. Perguntava-me, pois, aonde chegaremos nós...
Em
Salamanca, a 16 de fevereiro de 2014.
[1] Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=393965167414687&set=a.268763386601533.1073741828.262104660600739&type=1&theater¬if_t=comment_mention>.
Acesso em 16 fev. 14.